Para entender o que significa eficiência energética em uma casa, precisamos primeiro entender o contexto de produção e consumo de energia de uma residência.
No cenário nacional, conforme o último relatório do Balanço Nacional de Energia (BEN, 2023) o consumo de energia elétrica no ano de 2022 aumentou 2,3% em relação ao ano de 2021, com destaque para os setores industrial e residencial, que participaram com 37% e 27% respectivamente.
As edificações no Brasil são responsáveis por 51,2% do consumo final de energia elétrica, de acordo com o Balanço Energético Nacional, sendo que o setor residencial fica atrás somente do setor industrial em consumo, sempre apresentando aumento de 3% em média por ano. Ou seja, cada vez mais casas são construídas e a ascensão social leva a um maior consumo residencial, acarretando em uma demanda maior de energia todos os anos.
Sabemos que não é somente de energia elétrica que vive uma família. Temos o GLP utilizado na cozinha e aquecimento, a lenha que ainda é muito presente principalmente nas casas rurais, e uma fonte recente tem ganhado muita atenção, a energia solar térmica, que é utilizada para aquecimento de água. O aumento do uso de aquecimento solar de água foi de 80% no ano de 2022 somente no setor residencial. Um crescimento acelerado e que ainda tem muita margem para continuar a crescer.
E como se usa energia elétrica dentro de casa?
Cada família pode ter seus hábitos distintos, horários e preferências. De forma acadêmica, em 2019, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) divulgou os resultados da quarta Pesquisa de Posse e Hábitos de Uso de Equipamentos Elétricos (PPH) na Classe Residencial, e esses dados são utilizados para mapear as políticas nacionais de eficiência e conservação de energia.
Para o setor da habitação, a sensibilização dos arquitetos e engenheiros refere-se ao comportamento dos residentes e aos seus padrões de consumo de energia. O primeiro passo consiste no arquiteto ter uma compreensão avançada do consumo de energia dentro de uma residência e os motivos desse consumo.
Considerando a média mensal de consumo de energia elétrica residencial no Brasil, será que você está na média ou está economizando energia? Na tabela abaixo apresentamos o resultado da pesquisa da Procel.
Mês do ano | Média de consumo de uma família (kWh) |
Janeiro | 155,34 |
Fevereiro | 159,32 |
Março | 160,18 |
Abril | 156,24 |
Maio | 158,41 |
Junho | 160,39 |
Julho | 154,01 |
Agosto | 160,74 |
Setembro | 162,47 |
Outubro | 159,61 |
Novembro | 164,85 |
Dezembro | 165,25 |
A partir do mapeamento do consumo, precisamos entender os motivos do consumo de energia, para entender onde é possível ter medidas de conservação de energia em termos de uso cuidadoso pelos residentes. Quando olhamos a região SUL, o principal consumo de energia elétrica é de climatização artificial, respondendo por 32% do consumo total, seguido por chuveiro elétrico e refrigeração, com 25% e 23% respectivamente.
Conforme Lamberts, Dutra e Pereira (2014), o alto consumo energético para climatização artificial deriva do desenvolvimento social e econômico do país nos últimos anos, a diminuição dos preços de eletrodomésticos e a construção de edificações que não levam o clima em consideração, obrigando os usuários a usarem climatização para suportarem o calor ou o frio dentro de casa.
Ainda sobre o uso de climatização, a pesquisa da Eletrobras aponta que 95% do uso do aparelho condicionador de ar é utilizado para aquecimento no Rio Grande do Sul. O mesmo estudo também evidencia que 92,32% das edificações residenciais analisadas utilizam energia elétrica para aquecimento de água para chuveiro, possuindo um tempo médio de banho de até 10 minutos diários, com 4 banhos em média por residência.
Sabemos que o consumo de chuveiro elétrico pode ser minimizado com uso de equipamentos eficientes de aquecimento solar, porém, o consumo de climatização e iluminação são diretamente influenciados pelas escolhas na hora de projetar e representam que o usuário vai passar o resto da vida climatizando sua casa.
Nesse sentido, é importante compreender que a eficiência energética começa a existir quando diminuímos o uso de energia sem diminuir a qualidade de vida das pessoas, ou seja, não precisamos diminuir o consumo de climatização apenas desligando os aparelhos e aumentando o sofrimento dos usuários, mas sim, diminuindo a necessidade de utilizar a climatização para ter o conforto necessário.
E como podemos fazer isso?
Entende-se que a energia mais barata que existe, é aquela que não é necessário utilizar.
As estratégias de eficiência energéticas nas edificações envolvem inicialmente compreender o consumo e como o projeto arquitetônico bioclimático adaptado ao local pode diminuir esse consumo. O próximo passo é a utilização de equipamentos altamente eficientes e, por fim, uso de energias renováveis. É obrigatório seguir essa ordem de importância pois o primeiro passo sempre será diminuir ao máximo a demanda de energia da edificação, e depois suprir a demanda mínima necessária com energia renovável.
As medidas de utilizar equipamentos de alta eficiência energética representam o nível pós ocupação e há muitas soluções disponíveis, como a instalação de equipamentos eficientes, aquecimento de água solar e sistemas de iluminação em LED, por exemplo.
O Brasil possui o O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – Procel que atua diretamente na eficiência energética de equipamentos e edificações, fomentando, por exemplo, ações que transformaram a iluminação pública e residencial em uma iluminação LED de baixo consumo. No ano de 2022 a economia de energia obtida com as ações do Procel alcançou 22,10 bilhões de kWh, o que corresponde ao abastecimento de uma cidade de 11,16 milhões de residências durante um ano e 942 mil toneladas de CO₂ em emissões evitadas.
O potencial de conservação de energia no setor de edificações no Brasil é grande, estimado em 30% no retrofit de edificações existentes e pode superar 50% em novas edificações concebidas desde a fase inicial do projeto voltadas à eficiência energética.
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