User-Centered Design (UCD) e a arquitetura
Design Centrado no Usuário ou User-Centered Design (UCD) é uma filosofia e uma coleção de princípios e processos que colocam usuários no centro do design e do desenvolvimento de produtos. Em outras palavras, não é o ato de pessoas específicas criarem o produto a partir de suas crenças, para que outras pessoas (usuários) simplesmente os usem como foram concebidos. Ao contrário, requer primeiro entender o que os usuários realmente desejam e/ou necessitam para, só depois, desenvolver soluções que contemplem esses desejos e/ou necessidades.
Para ser um designer você precisa ser otimista em relação a novas soluções para um problema. Acho que o grande desafio é acreditar que é mesmo factível. E quanto maior o desafio, mais essencial é o otimismo para te impulsionar. É uma abordagem otimista para inventar novas soluções. Começa com o ser humano e termina com as respostas adaptadas às suas necessidades individuais. Quando você entende as pessoas que está tentando alcançar e, em seguida, projeta a partir da perspectiva delas, obtém respostas incomuns. UCD é como você está pensando e o que você está fazendo. Trata-se de criar uma empatia profunda com as pessoas para as quais você está projetando. Gerando montes de ideias e construindo um monte de protótipos. Compartilhando o que você criou com as pessoas para as quais você está projetando. Falhando e tentando novamente. E, finalmente, colocando sua solução inovadora no mundo.
Histórico
O termo foi criado em 1997 e, mais tarde, adotado e difundido por Don Norman, uma das maiores referências na área, que ajudou a popularizá-lo em livros como User-Centered System Design (1986) e no clássico The Design of Everyday Things (1998, reeditado em 2013). Como UCD é uma filosofia, acomoda uma gama de princípios, modelos e práticas de design sobre seus conceitos. Vamos resumir alguns dos principais.
Em linhas gerais, os princípios de UCD podem ser resumidos em:
O design é baseado em uma compreensão explícita de usuários, tarefas e ambientes.
Os usuários devem estar envolvidos em todo o processo de design e desenvolvimento do produto.
O design é conduzido e refinado por avaliações contínuas centradas no feedback dos usuários, durante todo o ciclo de vida do produto.
O processo de design deve ser iterativo (melhorias graduais no produto são feitas a partir da compreensão que obtém continuamente dos usuários).
O design deve abordar toda a experiência do usuário e não somente aspectos dela (é holístico).
A equipe de design deve incluir habilidades e perspectivas multidisciplinares.
Os principais modelos de abordagens que influenciam UCD são o Design Cooperativo, uma tradição escandinava, também chamada de co-design, que remonta aos anos 1970, e o Design Participativo, um termo americano para a mesma ideia. No século XXI, essas ideias foram de certa forma incorporadas e popularizadas pelo Design Thinking, um processo colaborativo e co-criativo de abordagens de problemas, oportunidades e soluções.
“O design thinking é uma abordagem centrada no ser humano para a inovação que se baseia no kit de ferramentas do designer para integrar as necessidades das pessoas, as possibilidades da tecnologia e os requisitos para o sucesso dos negócios.” — Tim Brown, CEO da IDEO e popularizador do método.
Muitas das práticas atuais em User-Centered Design baseiam-se no Design Thinking, em especial no Double Diamond (Duplo Diamante), um esquema de etapas de Design Thinking criado pelo British Design Council em 2005.
Double Diamond, um esquema do Design Thinking. Fonte: CursosPM3.
Double Diamond envolve as etapas de descoberta (discovery), definição (define), desenvolvimento (develop) e entrega (delivery) de um produto ou de outras criações.
As duas primeiras etapas, isto é, o primeiro diamante, dizem respeito ao problem space (espaço do problema). O objetivo é descobrir o real problema e definir a forma de resolvê-lo.
As duas etapas finais, ou seja, o segundo diamante, dizem respeito ao solution space (espaço da solução). O objetivo é desenvolver e, no caso de produtos digitais, colocar a solução em produção. A descoberta e o desenvolvimento são etapas em que há divergência, isto é, em que as possibilidades são expandidas. Por outro lado, definição e entrega são etapas convergentes, quando diversas possibilidades são sintetizadas em algo viável de ser construído e em um produto para os clientes/usuários.
Este é um esquema largamente empregado por muitos times de produtos de startups e empresas na atualidade, que, de certa maneira, junto com a co-criação trazida pelo Design Thinking, torna mais tangível a realização do Design Centrado no Usuário.
Por que é importante?
A prática arquitetônica sempre esteve enraizada no design centrado no ser humano. A arquitetura se equilibra entre ser arte estética e design prático. Com vários colaboradores e objetivos para o projeto, as necessidades do usuário final geralmente ficam comprometidas no processo de design. Para ajudar os arquitetos a projetar melhor para as pessoas, novas metodologias podem ser inspiradas em técnicas de design centradas no ser humano desenvolvidas por designers de experiência do usuário (UX). Na arquitetura, UX pode aparecer como um sistema para otimizar a relação entre as pessoas e os edifícios para atender às necessidades de uma comunidade.
Tanto arquitetos quanto designers de UX criam experiências. Os designers de UX estão envolvidos no processo de aquisição e integração de um produto digital, lidando com aspectos como design visual, branding, usabilidade e função. Os processos de concepção destacam semelhanças entre as disciplinas - começando com uma pesquisa aprofundada sobre o local, contexto e demandas espaciais; ou usuários, alvos de negócios e o produto. Os arquitetos usam essas informações para esboçar ideias na forma de layouts espaciais, seções ou plantas e, posteriormente, desenvolver protótipos de modelos 3D. Os designers de UX usariam os dados obtidos para estruturar o conceito de design e desenvolver blocos de layout básicos para delinear o fluxo do produto.
Os designers de UX dependem fortemente de dados para estabelecer uma base para sua estratégia de design. Para criar o produto ideal para os usuários, eles se aprofundam em dados quantitativos como quem, o quê e onde, e dados qualitativos como como e por quê. As informações coletadas sobre o grupo de usuários são extensas e podem ser usadas para entender o usuário e suas necessidades mais profundas. Cada decisão de design é apoiada por informações, designs criativos e eficazes centrados no usuário que aproveitam os dados para impulsionar a inovação.
Os arquitetos também coletam muitos dados sobre o local, estatutos e normas, padrões de movimento e padrões climáticos. Com todas essas informações, o usuário final e suas necessidades geralmente se perdem no processo. Tradicionalmente, as necessidades do usuário também tiveram que lutar contra a visão do arquiteto e as limitações estruturais por um lugar no projeto final. Ao contrário dos designers de UX, os arquitetos tendem a se envolver em pesquisas mais superficiais sobre o grupo de usuários, limitadas às suas necessidades espaciais, desejos estéticos e padrões ergonômicos. Por muitas vezes, arquitetos acabam projetando conforme sua própria visão do que é "melhor" para o usuário ao invés de aceitar o desafio de projetar ouvindo as necessidades reais do usuário e criando soluções inovadoras.
A arquitetura orientada por dados pode permitir decisões mais rápidas e habitantes mais felizes. Em uma época em que os arquitetos estavam ansiosos para impor sua visão a um cliente, o modernista Richard Neutra priorizou as necessidades de seu cliente. O arquiteto fornecia a eles um questionário detalhado e o estudava junto com seus diários, autobiografias e anedotas da infância. A informação revelaria os desejos e motivações de seu cliente, definindo suas “reais necessidades”.
Processos ágeis
Embora a fase conceitual da construção e do design UX seja semelhante, a metodologia para chegar ao design é diferente. O projeto arquitetônico geralmente segue um processo linear - vai do desenvolvimento do projeto aos documentos de construção e das permissões e custos à administração da construção. A prática segue o que se denomina “gestão de projetos em cascata”, onde o projeto é mapeado em fases sequenciais distintas que começam apenas quando a anterior é concluída.
Esse método de projeto rígido e fechado não permite que novas ideias possam surgir ou alterações sejam feitas sem que todo o trabalho anterior seja perdido, pois muitas vezes profissionais diferentes estão envolvidos e não retomam o projeto para alterações. Esse método consiste em muitos erros que surgem no futuro e questões de necessidades do usuário que são negligenciadas.
O mundo UX adota o “gerenciamento ágil de projetos”, uma metodologia mais repetitiva em que a equipe de projeto passa por ciclos curtos de entrega de ideias para aprender, adaptar e repetir rapidamente seus erros em cada ciclo subsequente. Por meio dessa metodologia, um design é produzido rapidamente usando feedback regular dos usuários para direcionar o projeto. A metodologia de UX nas fases iniciais do projeto arquitetônico pode colaborar com a geração de ideias e layouts iniciais mais sólidos e assertivos com as necessidades do cliente, menor número de alterações de projeto durante as fases complementares e principalmente na execução.
Aqui na LABZEB buscamos abordar o projeto arquitetônico com a mentalidade de um designer de UX, uma abordagem mais holística para projetar a experiência de usar um edifício. Desde o início, uma compreensão mais forte do usuário permite que o comportamento humano dê as diretrizes do design em maior grau. Projetar para as pessoas é o objetivo de todo design.
Quer conhecer mais sobre experiência do usuário e o projeto de arquitetura? Comente aqui sobre suas dúvidas.
Referências:
https://www.archdaily.com/989103/human-centered-design-what-architects-can-learn-from-ux-designers
https://jnd.org/user-centered-system-design-new-perspectives-on-human-computer-interaction/
https://jnd.org/the-design-of-everyday-things-revised-and-expanded-edition/
https://www.interaction-design.org/literature/topics/user-centered-design
https://xd.adobe.com/ideas/principles/human-computer-interaction/user-centered-design/
https://uxplanet.org/user-centered-design-process-and-benefits-fd9e431eb5a9
O projeto sem UX e com UX é a mesma diferença entre um diamante bruto e outro lapidado 👽