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Foto do escritorMarcos Vinícius de Lima

O ar condicionado não foi inventado para conforto?

Atualizado: 12 de set. de 2023

Essa é uma histórias de um dos grandes inventores da humanidade e como ideias surgem e se transformam.


Há mais de cem anos, numa área do Brooklyn chamada Williamsburg, na esquina da Grand Street com a Morgan Avenueo, um prédio teve um importante ocupante: a Sackett-Wilhelm Lithography Company. E empresa abrigou a primeira versão eficiente de uma máquina que faria mais para transformar os padrões de povoamento dos seres humanos que qualquer outra invenção do século XX.


Em 1902, a companhia possuía um lucrativo e crescente negócio de impressão de publicações em cores mas via-se diante de um problema: o ar. Pequenas alterações na umidade podiam complicar o processo de impressão em vários níveis: o papel se expandia ao absorver moléculas de água que flutuavam no ar da fábrica; a tinta fluía em velocidades diferentes e demorava mais a secar.


Dias excepcionalmente úmidos podiam acarretar enorme atraso em toda a produção, tornando difícil para os executivos da Sackett-Wilhelm cumprir os prazos de entrega prometidos aos clientes.


Desde a descoberta do fogo, o ser humano vinha moderando a temperatura do ar de maneira artificial. O século XIX havia testemunhado uma crescente tendência a sistemas mecânicos de aquecimento. Alguns projetos exóticos tinham tentado refrescar o interior de prédios, mas todos envolviam o resfriamento do ar com imensas quantidades de gelo. (O Madison Square Theater em Manhattan usava quatro toneladas de gelo por dia para tornar as noites de verão suportáveis para seus frequentadores). Porém, nenhuma dessas tentativas resolvia o problema da umidade. Após duas ondas sucessivas de calor nos verões de 1900 e 1901, os proprietários da Sackett-Wilhelm entraram em contato com o escritório da Buffalo Forge Company, especializada em sistemas mecânicos de aquecimento para a grande indústria, em Nova York.


Eles eram especialistas em tornar o ar mais quente. Seriam capazes de torná-lo mais seco? Eles tiveram sorte, porque o fundador da Buffalo Forge Company, William F. Wendt, cedendo aos apelos de um ambicioso engenheiro elétrico de 25 anos chamado Willis Carrier, havia acabado de criar um “programa de pesquisa” em que o jovem poderia empreender projetos mais especulativos. O laboratório de Carrier era o lugar perfeito para o enfrentamento de um problema como a desumidificação do ar, e ele se lançou no projeto com entusiasmo.


Após experimentar vários esquemas sugeridos pelos colegas, Carrier seguiu os próprios instintos e construiu um aparelho no qual a água fria passava através de uma serpentina, que usualmente transportava vapor. Usando tabelas de ponto de condensação fornecidas pelo Weather Bureau, construiu um sistema que esfriava o ar até a temperatura de condensação que produziria a umidade de 55% que a companhia Sackett-Wilhelm considerava ideal.


No final do verão de 1902, um sistema projetado por Carrier estava em funcionamento na litografia. Ele extraía água de um poço artesiano e um esfriamento adicional era proporcionado por uma máquina de refrigerar de amoníaco. O efeito total de esfriamento num dia quente de verão equivalia ao derretimento de quase 50 mil quilos de gelo num único período de 24 horas.


Nos anos seguintes, Carrier continuou tentando aperfeiçoar seu sistema. O aparelho da

Sackett-Wilhelm fora um sucesso, mas as serpentinas de aço tendiam a enferrujar com o uso regular. Uma noite, enquanto esperava um trem na Filadélfia, observando um forte nevoeiro avançar pela plataforma, Carrier teve um súbito lampejo. Seu sistema de condicionamento de ar poderia ser uma máquina para produzir nevoeiros em miniatura: puxando ar através de um fino spray de água dentro do aparelho, ele poderia usar a própria água como superfície de condensação. Graças àquelas resistentes ligações de hidrogênio, as moléculas de vapor de água no spray extrairiam a umidade do ar, tornando-o mais seco e eliminando o problema da ferrugem. Como disse Carrier em sua autobiografia: “Água não enferruja".


Carrier requereu uma patente por seu “Aparelho para tratamento do ar” em setembro de 1904, que lhe foi concedida no segundo dia de 1906. Pouco tempo depois, com um grupo de engenheiros empresariais da Buffalo Forge, Carrier desligou-se da empresa e fundou a Carrier Engineering Corporation, dedicada exclusivamente à fabricação de aparelhos de ar-condicionado. À medida que os condicionadores de ar passaram de curiosidade a item de luxo, transformando-se por fim numa necessidade da classe média, a empresa fez de Carrier um homem rico. Em 2007, a Carrier Corporation, agora parte da United Technologies, arrecadou 15 bilhões de dólares em vendas. Graças à brilhante ideia de seu fundador, a segunda metade do século XX viu uma migração em massa dentro dos Estados Unidos em direção aos climas das regiões Sul, Sudoeste e Sudeste, que haviam sido quase intoleráveis antes da adoção generalizada do ar-condicionado. Não é exagero dizer que a ideia de Carrier teve por efeito final o rearranjo do mapa social e político de diversos países.


Texto originalmente publicado por Steven Johnson, "De Onde Vêm Boas Ideias"


A invenção de Carrier passou por diferentes estágios e não só resolveu problemas como serviu para alterar a arquitetura do século XX. Atualmente a popularidade do condicionamento de ar torna os equipamentos uma tecnologia obrigatória para todas as classes de usuários. Por sua vez, nós não podemos abrir mão da nossa responsabilidade como arquitetos em responder aos condicionantes climáticos através da arquitetura, não devemos delegar ao consumo de energia a nossa falta de preocupação com a qualidade de vida do usuários de nossas construções.


Você sabia como Carrier iniciou sua criação? Comente e compartilhe sua opinião.


Um abraço,


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