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Foto do escritorMarcos Vinícius de Lima

Dia mundial sem carro: E se a gente não priorizasse o automóvel?

Os carros ainda são um dos principais meios de locomoção e seguem como um dos vilões da crise climática, pois a grande maioria deles consome combustíveis fósseis e geram poluentes, principalmente o gás carbônico - que intensifica o efeito estufa e, por consequência, o aquecimento global.


No dia 22 de Setembro celebramos internacionalmente o Dia Mundial sem Carro, como incentivo para que as pessoas passem um dia sem utilizar seu automóvel e possam refletir sobre o uso excessivo dele.


Vista aérea do trânsito no Rio. Pesquisa da Firjan mostrou que Região Metropolitana perdeu R$ 29 bilhões em 2013 devido aos congestionamentos. Foto: itdpbrasil.

Cerca de 1,2 milhão de pessoas morrem todos os anos em decorrência de sinistros de trânsito, e mais de metade das mortes é de pedestres, ciclistas e motociclistas. No Brasil, morreram 5.387 pedestres no trânsito em 2022. Nos Estados Unidos, desde 2010, as mortes de pedestres aumentaram em 77%, enquanto o aumento das demais mortes no trânsito foi de 22%.


Com o aumento dos carros nas ruas, a disputa pelo espaço público se acirrou, e o carro é quem mais tem vencido este embate. Obviamente, em termos de deslocamento, o pedestre é quem ocupa menos espaço. Seguido pelo ciclista e dos passageiros de ônibus.


Ou seja, um passageiro em um ônibus com ocupação ideal ocupa o mesmo espaço que um ciclista. Os passageiros em um carro cheio, com 5 pessoas, infelizmente situação rara no nosso mar de carros, ocupam 25 vezes mais espaço do que um pedestre.


Já uma pessoa em um carro, como vemos diariamente nas ruas, com menos de 2 pessoas, ocupa 15 vezes mais do que um passageiro de ônibus ou um ciclista e 75 vezes mais espaço do que um pedestre.


A forma como usamos o carro é uma das formas mais radicais de privatização do espaço público que permitimos ao indivíduo fazer diariamente. Fonte: itdpbrasil.

Para trazer novas ideias, o arquiteto letão Oto Ozols, imagina as cidades projetadas para as pessoas e não para os automóveis, através de vídeos que demonstram como o espaço público pode ser aprimorado a partir desta perspectiva.


Veja a seguir, alguns dos vídeos produzidos pelo arquiteto, nos quais ele modifica a realidade de sua cidade - onde os carros dominam as ruas - ao aprimorar a qualidade do espaço público através de zonas de encontro, paisagismo, uma boa iluminação e com prioridade ao transporte público. Ou seja, um espaço pensado para a escala humana, não para os automóveis, que desenvolve uma melhor relação física e emocional entre o pedestre e a cidade.





A transformação seria drástica na maioria das cidades pois foram projetadas e construídas para priorizar o transporte com veículos, o que economicamente sempre foi incentivado pelo poder público com o argumento da geração de empregos que a indústria do automóvel promove.


Rua XV de Novembro (Curitiba)


Um caso que deve sempre ser lembrado é o projeto de Jaime Lerner, um expoente do urbanismo brasileiro, quando foi prefeito da cidade de Curitiba, capital do Paraná.


A Rua XV de Novembro é um dos logradouros mais importantes do município e foi batizada para homenagear a data da Proclamação da República. Em seu trecho turístico, entre a Avenida Luiz Xavier e a Rua Presidente Faria, cujo pavimento é exclusivamente de petit-pavè, é conhecida como "Rua das Flores".


Esta intervenção a tornou primeira via pública exclusiva para pedestres do Brasil, implantada e inaugurada em 1972. A Rua XV de Novembro é um patrimônio tombada como Paisagem por lei estadual do Paraná desde 1974.

Seu calçamento foi discutido entre 1965 e 1972. Os comerciantes da região temiam que a intervenção na rua mais importante do centro, condenasse a região ao abandono, enquanto os donos de automóveis achavam inadmissível a prefeitura fechar o tráfego de automóveis e construir uma praça linear. Barricadas durante o dia eram montadas pela administração municipal para impedir o tráfego, contudo a noite os motoristas e comerciantes da região as retiravam.


Com isso a prefeitura iniciou as obras de calçamento em um final de semana, impedindo que mandados de segurança fossem requeridos pelos comerciantes. Foi numa noite de sexta-feira que caminhões descarregaram as pedras para calçar a rua, e a obra foi executada naquele fim de semana. Terminado o calçamento, os operários plantaram as árvores adultas e fixaram as floreiras.


Uma semana depois, um clube de automobilismo organizou um protesto na Rua das Flores. A intenção era que no sábado seguinte à realização da obra, automóveis antigos invadissem o calçadão. Porém, a prefeitura criou uma atividade infantil no local. Antes da hora prevista do protesto, funcionários da prefeitura esticaram um rolo de papel no calçadão e distribuíram tintas para as crianças que iam passando. O líder do movimento subiu com o carro na calçada e parou quando percebeu que havia dezenas de crianças agachadas desenhando. Foi o fim do protesto.


Contudo, os dias passaram e a população que andava pelo centro começou a desviar seu trajeto simplesmente para olhar as flores e caminhar pela praça linear. Com mais gente andando pela Rua XV de Novembro, o comércio aumentou e os comerciantes que antes reclamavam, perceberam o impacto positivo do calçamento para seus negócios.


As cidades devem considerar a proibição total do tráfego de veículos para permitir que as pessoas se movam livremente e com segurança. As ruas exclusivas para pedestres não apenas melhoram a segurança das pessoas, como reduzem os níveis de ruído e contribuem para a qualidade do ar, a valorização dos imóveis, as vendas do comércio local e a saúde em geral.


Um estudo de 2016 com mais de 100 cidades no mundo que mantinham diversas ruas exclusivas para pedestres mostrou que as vendas no comércio aumentaram 49%. Cidades na Áustria, Alemanha e países escandinavos registraram um aumento de mais de 60% nas vendas.


Ruas exclusivas para pedestres devem ser estrategicamente localizadas e facilmente acessíveis a partir de áreas residenciais e comerciais. Devem ser bem conectadas ao sistema de transporte público, ciclovias, estacionamentos e outros pontos de acesso.


Dias sem carros


Os dias sem carro, quando as cidades fecham uma ou mais ruas para o tráfego de veículos, incentivam as pessoas a explorar a cidade de bicicleta ou a pé e ajudam a mudar a perspectiva sobre a rua e o espaço público. A capital colombiana, Bogotá, realiza o maior evento do tipo no mundo, La Ciclovía, que acontece todos os domingos das 7h às 14h, cobrindo a maior parte da cidade. A iniciativa oferece mais de 120 quilômetros de espaço livre de carros para mais de 1,5 milhão de pessoas.



A iniciativa La Ciclovía, de Bogotá, proíbe a circulação de carros todos os domingos, permitindo que pedestres e ciclistas tomem conta das ruas. Foto: WRI.

Dias sem carro são oportunidades para reviver, animar e transformar os bairros. Áreas de estacionamento e esquinas vazias são convertidas em parklets e espaços para jogos, atividades de lazer, esportes e manifestações artísticas, e as ruas são ocupadas por pedestres e ciclistas de todas as idades.


Promover dias sem carro com regularidade pode contribuir para aumentar a prática de atividade física, diminuir os níveis de poluição, promover inclusão social e a construção da comunidade, proporcionar oportunidades de revitalização econômica e estimular a caminhada e o uso da bicicleta em um ambiente mais seguro. Quando Paris realizou seu primeiro dia sem carro, em 2015, houve redução de 40% nas emissões de escape de veículos e de 50% no nível de ruído no centro da cidade.


Imagine uma cidade planejada para priorizar os pedestres. Essa é uma cidade mais conectada, ativa, segura e saudável. As pessoas sabem como usar uma boa rua quando veem uma; cria-las é a responsabilidade dos planejadores urbanos.


Quando falamos em um futuro mais inclusivo, seguro, digno e ambientalmente sustentável para as próximas gerações, com certeza precisamos imaginar cidades que não priorizam o automóvel como nos dias atuais.


Comente sua experiência com o dia mundial sem carro na sua cidade.


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