Nos arredores do ITER (Instituto de Energias Renováveis e Tecnológicas) da ilha de Tenerife (Espanha) foi executada uma urbanização com 25 casas bioclimáticas que servem de modelo, laboratório prático e hospedagem para turistas.
Estas casas são arquitetonicamente projetadas para aproveitar ao máximo as características ambientais do local visando manter as condições agradáveis em seu interior sem o uso de sistemas de condicionamento artificial. Além disso, estas moradias estão equipadas com sistemas de energias renováveis que, juntamente com a sua configuração arquitetônica bioclimática, as tornam muito mais eficientes e sustentáveis.
Para a construção das edificações, o Conselho Insular de Tenerife e o ITER convocaram um concurso internacional de anteprojetos de habitações bioclimáticas. Mais de 400 projetos de 38 países diferentes foram inscritos, dos quais foram selecionados os 25 que estão no local.
O projeto EL MURO, de José Luis Rodríguez Gil e Javier Rueda Descalzo foi um dos vencedores. A intenção deste projeto foi construir uma casa autossuficiente integrada na paisagem da ilha, localizada em um platô contínuo. A essência do projeto é uma parede de pedra de basalto que suporta, em direção ao sul, uma estrutura leve de compensado com paredes de aço galvanizado e vidro.
Cria assim uma área integrada ao exterior, espaço que domina a paisagem e é protegida do sol e ventos. Após a parede são locados os dormitórios, voltados ao norte, formados por pequenos cômodos com alta inércia térmica nas paredes.
Esta dualidade é expressa espacialmente, conceitualmente, nos materiais e na construção: a desmaterialização e a ausência de limites da sala de estar (relação espaço entre usuários e entre paisagem) contra a contenção austera interior para áreas privadas de dormitórios.
A casa também tem o objetivo de reduzir seu impacto ecológico através do uso de materiais e sistemas construtivos locais, utilizando materiais da região (parede de basalto, revestimento de pedras vulcânicas, etc…), com certificações ambientais, especialmente as madeiras, e sem elementos prejudiciais (compostos de PVC, tintas sintéticas com VOC, vernizes, entre outros).
A inclinação da estrutura do espaço social é determinada pela radiação solar e integra painéis fotovoltaicos e de aquecimento de água, para buscar, como produto final, uma residência com zero emissão de GEE.
A casa projetada por José Luis Rodríguez Gil poderia ser adaptada para o clima brasileiro. As estratégias de climatização passiva utilizam a alta inércia da parede simbólica EL MURO para atrasar o calor de entrar nos ambientes, e no período noturno mais frio o MURO libera lentamente o calor para dentro dos dormitórios. O fluxo térmico utiliza apenas entradas e saídas de ar para regular a temperatura e promover conforto. Essa estratégia simples foi esquecida pelos arquitetos brasileiros, principalmente os projetistas do SUL do país.
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